quinta-feira, 18 de março de 2010

Jacó devasta Fátima

Lembro-mr de uma noite estar à lareira com trovoada em redor da casa e de a minha avó me contar esta história encantada:

João Baptista era um talhante,
Que vendia carnes e intestinos.
Tinha o estabelecimento em Fátima
E clientes peregrinos.
Especialidades, tinha muitas... Ver mais
E quase todas exclusivas
Todas de preços variáveis
Mas com descontos para velhas atrevidas:
Teta de vaca fumada,
Olhos de porco em manteiga,
Moelas de coelhos embebidas
Num molho roxo,
Que dava caganeira.
Costeleta de cavalo sifílitico,
Raspa de corno de boi selvagem.
Mas nada tinha mais saída,
Que olho de cú de carneiro,
Marinado no fumeiro,
E depois recheado com vagem.
Fazia enchidos de texugo
Com bucho de sapo torrado ao lume,
Depois adicionava-lhe silicone,
Como era seu costume,
Para enganar o cliente que os come,
E assim pareciam ter mais volume.
Cozia língua com paté francês
(Feito de ganso e faisão coxo),
Quando lhe acabava o frango,
Vendia coxas de mocho!
Mil e um molhos fazia,
Cada um para uma coisa só.
E todos eram caseiros,
Mas assavam os traseiros,
E retinham o cocó:
Pobres dos consumidores,
Lá ficavam com dores,
Mas na retrete, era o Fórróbódó!
Já tinha freguesia certa,
A esses até vendia fiado
Mas também se não pagassem,
Aumentava na carne de veado.
O negócio corria bem,
E João gostava do que fazia,
Mas um dia apareceu alguém
Que cantava outra cantiga:
"Sr. Baptista como está?
Quero propôr-lhe um negócio!
Trago-lhe um novo produto:
Pescoço de cabra com bócio!
A carne é tenra e suculenta,
Sem nervos e limpa de osso.
Vai bem com massas e vegetais,
E com arroz malandro de tremoço.
Até rivaliza com grandes carnes,
Vejamos o bife de cloaca!
Mas é esta é ainda mais indicada pra velhos,
Porque não agarra à placa!
E se for servida mal passada,
É que vê como de sabor é boa!
E não lhe pega doenças,
Como a carne de Ana Malhoa!"
Disse então o Baptista,
Gritando em estridente tom mi:
"Este talho é imaculado,
Não o quero ofendido por si:
Carne de Ana Malhoa,
Tal nojo até me dá oura,
É coisa que nunca entra aqui!
Não vendo carne pintadas,
Nem com excesso de hormonas!
Muito menos coisas empestadas
E com ares de matronas!
Mas o negócio até é jeitoso,
E ponderando, vou aceitar...
Olhe que com isso e carne de leproso,
A clientela vai adorar!"
Encomendou logo o Baptista
Caixas de carne sem fim
Aquela proposta era ouro branco,
Valia diamante e marfim!
Na semana depois dessa,
Chegou a dita encomenda:
Era em tanta quantidade,
Que pareciam na verdade,
Um divina oferenda.
Mas mal abriu a primeira o Baptista,
Percebeu a clientela a lástima:
Eram aquilo tudo bombas
E rebentou o Baptista
Com o dito Santuário de Fátima.
E voavam carnes queimadas
Misturando-se no ar com velas
Para os pobres era a chuva de estrelas,
Já os ricos fugiam delas.
Bem longe dali sorria
Outro personagem da cena
Enquanto o Baptista explodia,
Ele achava-se actor de cinema:
"Disfarçado te enganei,
Fazendo-me vendedor,
Mas eu não trabalho com carnes,
E do sangue até tenho horror.
O meu nome é, sim, Jacó
E sou pecador de nascença,
Agora que rebentei com Fátima,
Vou espalhar a minha presença!
De tão poderoso que sou,
Vou usar uma arma diferente,
Vou pegar num burro de pão-de-ló,
E assustar outra gente!
Rumo pois a terra incerta,
E sempre em frente irei.
Não há quem me faça frente
E se houver... Caguei!"

Seguiu então o senhor da guerra,
Rumo ao desconhecido.
Montado num burro estranho,
De pão-de-ló humedecido.
Quanto a Baptista, coitado,
Teve um fim que não merecia,
Ainda por cima que morreu,
Não vai poder ir para o Céu,
Porque rebentou a casa de Maria.

Só à pouco percebi que afinal as duas histórias estavam ligadas. Acho que ainda há mais, mas para já... Tenho que ir cagar :X

Xico Cruz, o Merdas

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